O tema do bullying tornou-se tão relevante que o último dia 7 de abril foi marcado pelo Dia Nacional de Combate ao Bullying e à Violência na Escola. Com o objetivo de atuar e esclarecer sobre a importância deste combate. E é com este objetivo que foi criado o projeto "Pare, olhe, ouça e sinta: o bullying na escola", com apoio do Ministério da Cultura, por meio da Lei de Incentivo à Cultura (Lei Rouanet). A iniciativa tem como principal mensagem desfazer preconceitos, evitar a violência física e a psicológica que transcende a sala de aula, fortalecer laços de amizade, carinho, respeito, amor a si próprio e ao próximo.
Na primeira etapa, concluída em março, a caravana, liderada pela professora, especialista em literatura infantil e escritora Márcia Funke Dieter, percorreu durante oito meses cerca de 20 mil quilômetros, passando por 20 cidades (16 no Rio Grande do Sul e quatro em Santa Catarina).
Foram 255 encontros com 4.350 alunos de Educação Infantil e anos iniciais em 153 escolas e 13 palestras para 230 professores, nos quais Márcia, lançou luz sobre a temática do bullying baseada no livro "Uni", de sua autoria, com ilustrações de Silvana Santos.
A contação da história é realizada pela escritora com foco principal na história. Com linguagem leve e divertida, utilizando poucos elementos e, todos, abertos para o imaginar, sem estereótipos, a mensagem seduz as crianças, mas também sensibiliza e conduz à reflexão para todas as idades.
O enredo tem dois personagens centrais. A menina Sophia, com cabelo nas cores do arco-íris, e um cavalinho com um chifre na cabeça. Eles tornam-se amigos, e por meio da cumplicidade e muito amor, a dupla mostra aos leitores o quanto suas singularidades os tornam especiais. É nesse contexto lúdico que o livro aborda o respeito às diferenças e o quão nocivo pode ser o bullying.
Márcia recorda de situações nas quais teve de segurar as lágrimas. "As apresentações impactaram muito as crianças. Tivemos momentos, na hora da conversa, que elas trouxeram relatos, surpreendendo até seus professores. Falaram de situações que viviam nas próprias casas, sofrendo caladas. Uma delas contou que não gostava da forma como o pai a chamava. Ela ficava extremamente triste, mas nunca reclamou por se tratar da família. Orientamos para que a questão fosse levada ao pai, que, certamente, ama o filho e compreenderá", lembrou.
Os encontros também despertaram nos alunos a importância de dar valor a si próprio. "Uma criança não gostava de uma marca no rosto por causa de uma cirurgia e se sentiu muito empolgada com a história. Ela pensou: eu também posso mudar isso. Falou com a professora para procurar ajuda. Se você não está bem com algo, você não precisa passar a vida inteira sentindo aquele trauma.
As apresentações privilegiaram escolas em áreas rurais, sem contato com especialistas e onde feiras de livros são raras ou inexistem".
"O projeto foi magnífico pois possibilitou a autora estar na escola, que num município pequeno é mais difícil de acontecer. Ter a contação da história pela própria escritora marcou muito as crianças, e os professores puderam promover reflexões acerca da temática bullying", avalia Eliandra Behling, supervisora da Secretaria de Educação de Candelária.
A escritora lembra que professores com até 30 anos de magistério se encantaram, pois, pela primeira vez na vida ouviram uma história contada pelo próprio autor, remetendo às lembranças da infância. Nas palestras para educadores, ela enfatizou a relevância da literatura para o aprendizado, para a construção da personalidade da criança e como é possível acessá-la por meio de histórias com poder de transformação e até de cura.
A secretária de Educação, Desporto e Cultura de Herveiras (RS), Juliara da Graça Lemos, destaca que o projeto é muito atrativo, deixando uma mensagem muito positiva sobre as relações humanas. "O Projeto Uni além de trabalhar o Bullying de forma leve, desperta a curiosidade e a sensibilidade das crianças e adultos. Ele trás uma reflexão sobre nossos atos e a forma de como devemos nos colocar no lugar do outro, como devemos agir e ter empatia com as diferenças".
A primeira etapa do projeto foi realizada entre junho de 2024 e concluída em março de 2025. No Rio Grande do Sul, foi necessário suplantar dificuldades logo após a enchente, cruzando estradas e pontes improvisadas. Em algumas cidades, a enxurrada varreu a biblioteca da escola, e o livro "Uni" era o único no acervo. Foram distribuídos 3 mil exemplares impressos para as instituições e 350 em braille. A apresentação da história está disponível em vídeo na internet, no canal da produtora cultural Lisboa & Rocha, no Youtube, e ultrapassa 1,1 mil visualizações. A narrativa é acompanhada por um intérprete de Libras que traduz a história em sinais, permitindo acessibilidade a pessoas com deficiência auditiva.
Correio do Povo